Rua Campus Universitário, Campus Universitário
Capão do Leão, RS- CEP: 96160-000
(53) 3275-7153
Arquivo do Autor: Capão do Leão
Frami Gás
Av. Narciso Silva, 960 – Centro
Capão do Leão, RS- CEP: 96160-000
(53) 99155-0091
Cia de Alimentos Costa
Rua João Albuquerque Filho, 21 – Cerro do Estado
Capão do Leão, RS- CEP: 96160-000
(53) 3274-4092
(53) 3279-3545
(53) 99109-1692
Carlos Alberto Prestes Iribarrem
Av. Três de Maio, 2726 – Jardim América
Capão do Leão, RS- CEP: 96160-000
(53) 3275-5126
Fragata Agro Bio
Rua Enedino Silva, 49 – Parque Fragata
Capão do Leão, RS- CEP: 96160-000
(53) 3027-2217
(53) 99982-7118
Bochechão Lanches
Av. 3 de Maio, 1802 – Jardim América
Capão do Leão, RS- CEP: 96160-000
(53) 3275-6525
Açougue BR
Rua Rui Barbosa, 966
Telefones: (53) 3275-5556 e (53) 8402-3914
Jardim América – Capão do Leão RS
Tudo para o seu churrasco
Cartões Visa e Mastercard
Borracharia Avenida
8461.6390 / 9179.6635
Anderson
Aberto 08:00 x 19:00
Compra, vende pneus usados e rodas de liga leve
Frente ao Motel Vila Rica
Av. 3 de Maio Nº 1506 – Jardim América
Empreiteira Cardoso
Do alicerce ao telhado
Instalações hidráulicas, elétricas, lajes, pré-lajes e pinturas
Darlon
(53)8463.6318
9122.2042
Rua Santa Luzia, 638 – Centro
Taxi Central
Prefixo 012
Carro na sede do Município
Cobramos a partir do local da chamada
Fones: 8431-3191 / 8104-7171
Também possuímos serviços de Vans
Sapataria Corvelho
Conserta-se calçados
Afia-se facas e tesouras
Fone: 9113.0330
Atendimento de segunda a sexta das 8:00 às 11:45h
14:00h às 18:30h
Sábado 8:00 às 12:00h
Av. Narciso Silva, 2529 – Fundos
Centro – Próximo a Secretaria de Educação
Andreia Coitinho Leite – Vestuário
Telefone: (53) 98436-4074 (Whatsapp)
Logradouro: Presidente Juscelino K. Oliveira, 29
Bairro: Jardim America
CEP: 96160-000
Capão do Leão
Sulbrasil Prestadora de Servicos LTDA
E-mail: aquinoana@brturbo.com.br
Telefone: (53) 3025-1090
Logradouro: Quilombo, 27
Bairro: Jardim America
CEP: 96160-000
CNPJ: 02.338.954/0001-34
Bazar Girasol
De Cleni Islabão
Comércio varejista de suvenires, bijuterias e artesanatos
Rua Porto Alegre, 1074, Jardim America
Capão do Leão, RS, CEP 96160-000
Telefone: 53) 9156-6717
Restaurante e Lancheria Paladar
Lúcio Consertos
Manutenção e conserto em eletrodomésticos
(53) 3275-2446 / 98434.4991
Rua: Edmundo Peres, 651
Centro – Capão do Leão/RS
Loja Beky
Loja e Mercadinho da Beky
Manoel Vasques Vila, 241- Casabom
Capão do Leão RS – CEP 96160-000
Telefones: 98445.3841 – 99100.0011
Rosanet – Rosa Lanches
Tel.3275.1423
98439.4379
99126.8806
Bairro Theodózio
Capão do Leão
Fretes Vieira
(53) 98467-8426
(53) 9996-717
BR 116 Nº 1751, Jardim América
Em frente ao Posto Leão
Capão do Leão RS
CEP: 96160-000
Ferragem Leão
Endereço: Av. Narciso Silva, 1468 – 1
Telefone:32751787
e-mail: fbmontanelli@gmail.com
www.ferragem-leao.leonense.com.br
Argamassa MJK
(53) 98415-8741 / 98485-3396 /
Rua Rui Barbosa, 131 – Jardim América – Capão do Leão
Multiart
Rua Modesto Salles Martins, 39
Capão do Leão, RS
CEP: 96160-000
(53) 3275-1923
Empório Evidência
Av. Narciso Silva, 1550 – Centro
(53) 3275.2055 – 8461.9818 – 9981.4166
Capão do Leão RS
Ferragem Borges
Av. 3 de Maio, 2079 – Ao lado da Mundial Flores
(53)3275-6728
Jardim América – Capão do Leão RS
Supermercado Super
Av. Narciso Silva, 1673 – Centro
Capão do Leão, RS- CEP: 96160-000
(53) 3275-1717
Casa de Carnes Barcellos
Rua Alvino Grisbach Leite, 307 – Jardim América –
Capão do Leão, RS- CEP: 96160-000
(53) 3275-6002
(53) 3275-5013
Horário de ônibus do Capão do Leão
Tarifas
Localidade | Tarifa (R$) | Localidade | Tarifa (R$) |
---|---|---|---|
Mínima (Interna) | 2,00 | Teodósio | 2,95 |
Jardim América | 2,40 | Cerro Estado/ Cerro Almas | 3,00 |
Parque Fraga/ Faixa | 2,40 | Palma | 3,40 |
Horários > Segunda a Sexta
CE = Cerro do estado T = Via trilhos C. ALMAS = Cerro das Almas
Saída do Capão do Leão
Hora | Local | Hora | Local | Hora | Local |
---|---|---|---|---|---|
00:40** | CE-T | 08:20 | CE | 15:10 | CE-T |
01:00* | CE-T | 08:40 | CE-T | 15:50 | CE |
05:00 | CE-T | 09:20 | CE-T -LISBOA | 16:40 | CE.T |
05:30 | CE-T | 09:55 | CE-T | 17:05 | CE-T |
05:50 | CE | 10:40 | CE | 17:30 | CE |
06:00 | CE-T-CICASUL | 11:30 | CE-T | 17:55 | PALMA-T |
06:20 | CE-T | 12:05 | CE | 18:20 | CE-T |
06:30 | CE-T-CICASUL | 12:30 | CE-T | 18:45 | C.ALMAS-T |
06:45 | C.ALMAS-T | 12:45 | PALMA | 19:30 | CE |
06:55 | CE-T | 13:05 | CE-T- CICASUL | 20:50 | CE-T |
07:10 | CE-T-CICASUL | 13:25 | CE-T | 21:40 | CE-T |
07:30 | PALMA | 13:50 | CE-T | 22:45 | CE-T |
07:50 | CE-T | 14:20 | CE-T | 23:35 | CE -T |
Saída de Pelotas
Hora | Local | Hora | Local | Hora | Local |
---|---|---|---|---|---|
00:00** | CE-T | 11:35 | CE | 17:35 | CE-T-CICASUL |
00:20* | CE-T | 11:50 | PALMA-T | 17:50 | C.ALMAS |
01:20** | CE-T | 12:00 | CE-T-LISBOA | 18:05 | CE-T |
01:40* | CE-T | 12:15 | CE | 18:15 | CE-T-CICASUL |
06:20 | PALMA | 12:50 | CE-T | 18:30 | CE |
06:50 | CE-T | 13:25 | CE-T | 18:45 | CE-T-CICASUL |
07:20 | CE | 14:15 | CE | 19:00 | CE-T |
07:45 | CE-T | 15:00 | CE-T | 19:20 | CE-T-CICASUL |
08:25 | CE-T-LISBOA | 15:40 | CE-T | 19:40 | CE |
09:05 | CE-T | 16:05 | CE-T | 20:30 | CE-T |
09:40 | CE | 16:30 | CE | 21:40 | CE-T |
10:35 | CE-T | 16:55 | PALMA-T | 22:45 | CE-T |
11:05 | CE-T | 17:20 | CE-T | 23:35 | CE-T |
*HORÁRIOS PRESTADOS DE TERÇA-FEIRA À SEXTA-FEIRA (MADRUGADA)
**HORÁRIO PRESTADO NA SEGUNDA-FEIRA (MADRUGADA)
Horários > Sábados
Saída do Capão do Leão
Hora | Local | Hora | Local | Hora | Local |
---|---|---|---|---|---|
01:00 | CE-T | 09:25 | CE-T | 16:15 | CE-T |
05:30 | CE-T | 10:45 | CE | 16:55 | CE-T |
06:00 | CE-T CICASUL | 11:30 | CE-T | 17:40 | PALMA |
06:20 | CE | 12:05 | CE-T | 18:20 | CE-T |
06:45 | C.ALMAS-T | 12:50 | PALMA | 19:00 | CE-T |
07:20 | PALMA | 13:35 | CE-T | 20:10 | CE-T |
08:00 | CE-T | 14:20 | CE-T | 21:00 | CE-T |
08:30 | CE-T | 15:20 | CE | 23:00 | CE-T |
Saída de Pelotas
Hora | Local | Hora | Local | Hora | Local |
---|---|---|---|---|---|
00:20 | CE-T | 11:05 | CE-T | 17:20 | CE |
01:40 | CE-T | 11:50 | PALMA-T | 18:00 | CE-T |
06:20 | PALMA | 12:30 | CE | 18:50 | CE-T |
07:00 | CE-T | 13:15 | CE-T | 19:20 | CE-T-CICA |
07:30 | CE-T | 14:10 | CE-T | 20:00 | CE-T |
08:25 | CE-T | 15:00 | CE | 21:00 | CE-T |
09:30 | CE | 15:50 | CE-T | 22:00 | CE-T |
10:30 | CE-T | 16:35 | PALMA-T | — | — |
Horários > Domingos e Feriados
Saída do Capão do Leão
Hora | Local | Hora | Local | Hora | Local |
---|---|---|---|---|---|
00:40 | CE- T | 12:30 | CE-T | 18:15 | CE |
05:55 | CE- T | 13:15 | CE | 18:45 | CE-T |
06:45 | CE-T | 14:45 | CE-T | 19:45 | CE-T |
07:45 | PALMA-T | 16:10 | CE | 21:00 | CE-T |
08:45 | CE-T | 16:45 | PALMA-T | 23:00 | CE-T |
09:45 | CE | 17:10 | CE-T | — | — |
10:45 | CE -T | 17:45 | CE-T | — | — |
Saída de Pelotas
Hora | Local | Hora | Local | Hora | Local |
---|---|---|---|---|---|
00:00 | CE-T | 11:45 | CE-T | 18:15 | CE-T |
01:20 | CE-T | 12:50 | CE-T | 18:50 | CE |
06:45 | PALMA-T | 13:40 | CE-T | 19:15 | CE-T |
07:45 | CE | 14:10 | CE | 19:50 | CE-T |
08:45 | CE | 15:50 | PALMA-T | 20:50 | CE-T |
09:45 | CE-T | 17:15 | CE | 22:00 | CE-T |
10:45 | CE | 17:50 | CE-T | — | — |
Identidade, saber tradicional e cultura material dos cortadores tradicionais de pedras em Capão do Leão
O presente estudo trata sobre as representações identitárias de um grupo de cortadores de pedras localizados no bairro Cerro do Estado, município de Capão do Leão, no sul do Brasil. Analisando a partir da antropologia simbólica, e observando as relações sociais entre humanos e não humanos, ou seja, entre “sujeitos”, e “objetos”, os quais segundo Gonçalves (2010) e Leitão (2008), são indissociáveis, e mais do que representar, expressam uma forma de organização e constituição de suas identidades.
Débora Leitão, vai complementar e reforçar os estudos de Gonçalves e acrescenta também essa relação às coisas, paisagens, animais, natureza…, e os chama de “objetos construtores”, a autora aponta a sugestão de Bruno Latour em tratarmos as coisas como “fatos sociais”, observando as relações sociais como não sendo anteriores aos objetos, mas “constitutivas e construídas por tais objetos”.
O “objeto construtor” concebe abordagem contemporânea dos objetos enquanto construtores de relações sociais, de identidades e memórias, concebendo as coisas como “cultura”. Segundo Débora Leitão, “os objetos constroem as pessoas tanto quanto as pessoas fabricam objetos”.
A partir dessa concepção analisei a cultura imaterial e a material desse grupo, pois conforme os autores mencionados, sujeitos e objetos complementam-se. Para Leitão os objetos e as coisas só terão sentido se observados no contexto e não na unidade. Então busquei conhecer a forma, o material, a técnica de fabricação das ferramentas utilizadas, a utilização de cada uma, os cortes e todos os processos que envolvem esses saberes. Também entra no contexto o meio ambiente que é rico em granito, pois cada um desses itens compõe a representação coletiva.
Não deixando de lado o particularismo histórico local (Boas), remontarei ao final do século XIX, quando chegou a Compagne Française Du Porto de Rio Grande do Sul, e originou o bairro Cerro do Estado, a mesma extraia blocos para a construção dos Molhes da Barra na cidade de Rio Grande-RS, no entanto o corte artesanal já acontecia no município antes desta data.
Como o saber tradicional não é fechado, acabado, e está em constante processo de resignificação e aprimoramento, sendo passado de uma geração para a outra através da oralidade (Cunha, 2009), observa-se uma mudança na técnica do corte “seda”, o primeiro corte da pedra, pois antes da chegada da empresa francesa era feito com cunhas de madeira que ao colocarem água, inchava e partia a pedra, no entanto, esse processo demorava dias. Então com a contribuição de geólogos alemães, americanos que vieram trabalhar na empresa mineradora, passaram a utilizar o “ponchote”, uma ferramenta pequena de ferro, que corta a pedra só com o bater de uma marreta.
Do saber tradicional, explicaram que a “veia” da pedra, ou seja, a linha de corte da pedra, são facilmente encontrados a partir do saber tradicional e do olhar treinado para sua identificação. O primeiro corte chama-se “seda”, aqui o granito corta facilmente, e está situado no sentido leste/oeste, ou seja, orientado pelo nascer e pôr do sol. O segundo é o trincante, sua direção é oposta ao seda, situando-se no sentido norte/sul e após temos os “piodas de butuneira e o pioda de levante”, o último é o mais trabalhoso de cortar. Mas se a rocha encontrada na natureza, por motivos diversos virou, essa orientação solar não é posta em prática, aí é o saber tradicional que orienta os cortes.
Ainda com os estudos de Appadurai (2008), observei as mudanças e as trajetórias das ferramentas, pois há anos atrás eram produzidas com barras de ferro grossas e na falta dessa passaram a utilizar barras mais finas e também molas de trens, de carros entre outros materiais.
As formas das ferramentas e a têmperas são produzidas na ferraria. A têmpera serve para dar resistência, ou seja, para a ferramenta não quebrar com o bater da marreta ou marretinha. Dependendo do material, umas são temperadas na água e outras no óleo.
Algumas ferramentas possuem os seus nomes em francês, herança da empresa francesa, tais como ponchote, recaladeira e escopo, e outros em português, tais como os ponteiros, marreta, marretinha, etc. Precisam de régua para medir os cortes, e para a segurança, usam óculos para proteger os olhos e luvas de borracha nas mãos. A pólvora utilizada na detonação também é produzida por eles mesmos, numa composição de carvão, enxofre e salitre.
A rocha é extraída por indivíduos isolados ou em grupo de dois, três ou mais trabalhadores, onde a reciprocidade e a solidariedade (Mauss: 2003) estão presentes, na fala de um trabalhador o Sr. Roberto Vieiras: “Não trabalhamos sozinhos, precisamos da ajuda uns dos outros. Porque como tú vai fazer a furação, a detonação? Sozinho tú não consegui, precisa da ajuda dos outros. E se não sabe apontar os ferros, tú precisa de um que faça pra ti”.
As esposas auxiliam na preparação da alimentação, cafés, cuidados com a casa, filhos, etc. No local de trabalho, os que moram longe reúnem-se na hora do almoço e café, é o momento para conversar e confraternizar.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
APPADURAI, Arjun. Introcução: mercadorias e a política de valor. In: A vida social das coisas: as mercadorias sob uma perspectiva cultural. Rio de Janeiro: Ed. UFF, 2008.
BOAS, Franz. Antropologia Cultural. Rio de Janeiro. 6ª. Edição: ZAHAR, 2004.
CUNHA, Manuela Carneiro da. Cultura com aspas. “Relações e dissensões entre saberes tradicionais e saber científico”: COSAC NAIFY, 2009.
GONÇALVES, José Reginaldo Santos. Teorias Antropológicas e objetos materiais. In; Antropologia dos objetos; coleções, museus e patrimônio. Rio de janeiro: IPHAN, 2007. [P. 14-42].
LEITÃO, Débora krischke; PINHEIRO-MACHADO, Rosana. Tratar as coisas como fatos sociais: metamorfoses nos estudos sobre cultura material. Mediações, Londrina, v. 15, n. 2, p.231-247, 2010.
MAUSS, Marcel. Ensaio sobre a dádiva. in: Mauss, M. Sociologia e Antropologia. SP, Cosac Naif, 2003
Cátia Simone Castro Gabriel da Silva
Antropóloga
Especialista em Gestão Pública e Desenvolvimento Regional
A transmissão do saber fazer nas pedreiras do bairro Cerro do Estado/Capão do Leão/RS
Por Cátia Simone da Silva
Esse diário de campo fez parte da pesquisa sobre “A transmissão do saber fazer nas pedreiras do bairro Cerro do Estado”, município de Capão do Leão, ao Sul do Brasil. A extração mineral granito é uma das principais fontes de renda, juntamente com o cultivo do arroz e a pecuária.
A metodologia empregada foi o uso do “diário de campo”, recursos audio-visuais (fotografia e filmagens), que constituirão parte de um “documentário etnográfico” e também: um questionário semi-estruturado com perguntas a partir dos problemas em questão: “trabalho e gênero”.
Como nasci e moro no local, sou portanto uma nativa, devo segundo Magnani (2002) “estranhar o familiar”, e o estranhamento deu-se na medida que ia sendo conduzido as entrevistas, pois foram surgindo expressões e palavras que eu não conhecia ainda.
A pesquisa tem como foco a categoria trabalho, o qual está imbricado com a territorialidade, e é uma das principais constituições identitárias do grupo. Desta forma não poderia deixar de comentar a etmologia da palavra “trabalho”, conforme Cunha:
“Trabalho tem o sentido de torturar, derivado de tripalium (instrumento de tortura). Dá idéia inicial de “sofrer” passou-se à idéia de esforçar-se, lutar, pugnar e, por fim trabalhar; ocupar-se de um míster, “exercer o seu ofício”. Do latim: Tripalire – entrada no português, século XIII).” (NOGUEIRA, 2001. P. 38 APUD: cunha, 1987. P. 204).
No primeiro sentido de “torturar”, pode ser percebido aqui nas atividades, pois os trabalhadores ficam expostos a vários tipos de acidentes. Existem casos de mutilações dos dedos, perda da visão por lascas de pedras ou ferro, e acidentes de toda a ordem, inclusive casos de óbitos. Além das persuações das políticas públicas ambientais, vulnerabilidade econômica, sendo na maioria dos casos um trabalho informal. Mas também é visto pelos interlocutores com orgulho, pois ocupam-se da atividade desde criança.
Sai pela manhã como o flâneur 1 de Walter Benjamin, (ROUANET, 1993), sem um horizonte claro para as minhas caminhadas, deixando a intuição e os acontecimentos à minha volta me conduzirem no caminho que eu deveria seguir. Saindo nesse dia com dois problemas a descobrir e mais um terceiro que surgiu durante as entrevistas.
Minha primeira dúvida é o significado do termo “marroeiro”, porque num blog sobre “A história do Capão do Leão”, dizia que o termo graniteiro é utilizado para os que trabalham fora do DEPREC2, pois nessa empresa os trabalhadores no passado e até hoje possuem a denominação de “marroeiro”.
A outra era sobre gênero, gostaria de saber sobre o trabalho das mulheres nas pedreiras, ou se era feito só por homens, se já teve mulher, quando, e qual era a participação delas na atividade, além de auxiliarem em casa e cuidarem dos filhos.
Então, com as sensações do “Anthropology Blue” fui em direção à casa da Sra. Maria da Conceição, esposa do Sr. Teodoro Alves Pereira (85 anos), o graniteiro mais velho do município, no caminho encontrei Joel (marroeiro) e expliquei que estava fazendo um trabalho para a faculdade e perguntei se ele poderia me ajudar em uma dúvida sobre a profissão de marroeiro dentro do DEPREC, indaguei sobre qual a diferença que existia entre marroeiro e graniteiro.
Para ele: “Marroeiro ou graniteiro é a mesma coisa, cortam pedra”. Me explicou rápido, e quando eu perguntei se poderia anotar e gravar, simplismente disse-me que o Paulo Antônio me daria uma explicação melhor, e já pegou o celular e ligou para o colega de serviço explicando o que eu queria e dizendo: “ela já está indo aí”.
Quando cheguei no escritório do DEPREC, o Sr. Paulo Antônio também me explicou muito rápido e quando perguntei se ele permitia uma gravação, ele disse, “O Jairo já está chegando e é ele que vai te explicar melhor”.
O Sr. Jairo Umberto Pereira Costa, é o administrador da Superintendência do Porto de Rio Grande aqui no bairro, local onde se deu as entrevistas. Ficou contente quando eu disse que privilegiava as histórias orais contadas pelos próprios atores envolvidos nas temáticas de pesquisa: aqui são os graniteiros, suas cônjuges e ou outros.
A partir de uma pergunta com a filmadora desligada, eu conversava com o Sr. Jairo, somente após as explicações é que eu gravava a minha pergunta e a explicação dele. Essa técnica eu descobri na hora, com a alteridade senti que assim ficava melhor para ele se preparar com a resposta. Conforme o desenrolar das respostas eu já observava e preparava outras perguntas que estavam contidas naquela resposta, solicitando mais detalhes.
Subjetivamente o Sr. Jairo expressava no presente uma memória coletiva do passado, onde foram narrados dados históricos da empresa Compagne Française Du Port do Rio Grande do Sul, que chegou e originou o bairro no início do século XX, e após foi sucedida por uma empresa americana e duas brasileiras.
Comentou: “Nós temos aqui equipamentos franceses e americanos, essas empresas trouxeram especialistas em pedra para cá, foram geólogos alemães, italianos, americanos que contribuiram com o desenvolvimento da técnica do corte do granito aqui no município, pois antes era feito com cunha de madeira e depois passaram a usar o ponchote”.
Também narrou fatos da sua vida pessoal e de outros que diziam respeito sobre a profissão de cortador de pedra. Explicou que iniciou na profissão desde cedo, aprendeu com o pai, e aos 18 anos entrou como funcionário do DEPREC2, onde exercia a função de “marroeiro”, disse-me que todos que cortam pedras são graniteiros e dentro desta profissão existem várias funções; foguista, marroeiro, cortador de pedra,… explicou cada uma delas. “A denominação marroeiro, se dá porque os trabalhadores usavam uma ferramenta chamada “marrão” para bater e amiudar as pedras”.
Comentou os nomes das ferramentas utilizadas para o corte da pedra: o ponchote, ponteiro, recaladeira, marrão, maceta…, e suas utilizações, alguns nomes ainda em francês, herança da empresa francesa de extração mineral.
Indaguei ao Sr. Jairo sobre como identificam o veio da pedra, ele me respondeu:
_ “O veio da pedra aqui na nossa região é identificado no sentido que nasce o sol, do leste para o oeste teremos o “seda”, em oposto, sentido norte – sul, teremos o “trincante”, e outros…”.
O Sr. Jairo me forneceu várias informações que eu precisava e auxiliou-me muito na minha pesquisa, nos despedimos pois já era quase meio-dia.
À tarde, fui conversar com o casal de vizinhos, a Sra. Maria da Conceição Pereira, mais conhecida por “Negrinha”e o Sr. Teodoro Alves Pereira, também conhecido como “Doro”, ele é “o graniteiro mais velho do município”, com ele busquei a sua história de vida e também informações a respeito da sua profissão, já que está com 82 anos e trabalhou até poucos anos atrás.
Ele explicou que iniciou na profissão desde cedo, pois na escola brigou com uma colega e chamaram o seu pai, que era o maquinista do trem e funcionário do DEPREC. E disseram: “Pantaleão ou é tú no DEPREC ou o Teodoro no colégio”. O Sr. Teodoro lembra da decisão que o pai tomou: “Ah, o meu pai não pensou duas vezes, me falou amanhã tú pega a panela com comida e vai pro Cerro das Almas trabalhar nas pedreiras”.
“Desde os 13 anos corto pedra, aprendi com três amigos, a gente aprende a fazer todo o serviço sozinho, eles te riscavam uma pedra, te diziam e depois não falavam mais e aí o cara tinha que fazer”.
Pensando na relação com gênero conversei com a Sra. Maria da Conceição e ela comentou que “Além de criar os dez filhos, lavar-roupa e fazer todo o serviço da casa ainda ajudava o marido na pedreira, criei os meus filhos com o dinheiro das pedreiras.”
Ela exercia várias funções ao mesmo tempo: “cortava paralelepípedos, separava montes de pedra de obra, irregular,… ajudava a colocar as pedras para cima do caminhão… e no serviço da pedreira tinha a ajuda de todos os filhos mais velhos.”
Ainda sobre as questões de gênero, todos os meus interlocutores conheceram algumas mulheres que exerceram a profissão, uma chamada Flor, outra Noemi, Maria da Conceição, suas filhas Tânia e Vera, entre outras que não sabiam o nome.
Durante as entrevistas na casa do Sr. Teodoro, o seu filho mais velho Roberto Almeida Pereira me disse: “Vai lá na pedreira, estamos fazendo um furo”. Fui e encontrei o Roberto e Luiz Fernando da Cruz Joaquim, mais conhecido por “Luizinho” e vi como eles abrem uma pedreira, perguntei para o Roberto o que eles estavam fazendo no momento, ele é marteleteiro e foguista, e me explicou: “estamos furando a pedreira para detonar”. O furo era feito com uma marreta batendo em cima de uma broca, depois de terem atingido vários centrímetros de profundidade, encontraram uma “genda”. Roberto explicou que “Teriam que passar pela genda e cortar bem, senão estariam ralados…”.
Sentado está o Luiz Fernando, Silvio Medeiros, e na direita o Roberto.
A pedreira era do Luizinho, através da reciprocidade o Roberto está ajudando-o a fazer o furo no “trincante de plumo”, outro amigo o Silvio Medeiros estava só olhando. Eles disseram: “Uns ajudam os outros, pois quando precisamos sempre temos com quem contar”.
Após umas 6 horas o furo estava pronto, com uma réqua foi traçado o trincante, que depois foi perfurado com os ponchotes, essa ferramenta dá direção ao corte na hora em que a rocha for dinamitada. Explicaram também que esse processo manual dependendo leva até um dia, e se pedissem para o patrão furar com o compressor, levaria uns 10 minutos.
No entanto, outros graniteiros me explicaram que mesmo obtendo a ajuda do patrão, eles dependerão da hora que o patrão poderá ir, e também se revestirá em uma espécie de compromisso com o patrão, que irá determinar o que será cortado e o valor que custará.
A dificuldade de possuírem um compressor é o valor, que para eles é muito caro, Luiz Fernando comentou:
“Um usado custa em torno de R$ 5.000.00 à R$ 6.000,00 e a broca uns R$ 80,00. Na ponta da broca tem uma vídia de diamante que perfura a rocha, e isso os mais baratos que são feitos com motor de um caminhão Scania, pois existem outros bem mais caros”.
Também obtive dados pessoais sobre as suas inserções na atividade, com quem aprenderam, idade que iniciaram… suas funções, e informações referentes a atividade em questão.
Após algumas horas de gravações, ainda tinham que fabricar a pólvora para dinamitar a pedreira, infelizmente não pude permanecer e despedi-me agradecendo, na hora Luizinho e Roberto disseram “Tomara que tú tenha trazido sorte para nós”, e eu disse que tinha levado sim. Após algumas horas em casa ouvi o barulho da explosão, e em alguns dias depois descobri que haviam dado um bom corte.
Notas:
1 – A ideia do flâneur, passeando e vai descrevendo o que vê, a duração do passado dentro do presente, percorrendo e descrevendo um lugar dentro das suas temporalidades. Pois os dados não são só coletados, mas também construídos. Benjamin, vem com a ideia de bricouleur, onde o flâneur coletando imagens, registrando memórias, fotografando e produzindo imagens busca uma lógica a esses fragmentos.
2 – DEPREC – Significa: Departamento de Portos Rios e Canais.
Referências bibliográficas:
ROUANET, Sérgio Paulo. A razão nômade. Walter Benjamin e Outros viajantes. Rio de Janeiro: UFRJ: 1993. Parte 1 – Viajando com Walter Benjamin. Cap. 1: “Viagem no Espaço: a Cidade” (pp. 21-62).
MAGNANI, José Guilherme Cantor. 2001 “De perto e de dentro: notas para uma etnografia urbana”. Revista Brasileira de Ciências Sociais. São Paulo, ANPOCS/Edusc, vol. 17, no. 49, pp. 11-29. [Disponível tb pportal do Capes]
Cátia Simone Castro Gabriel da Silva
Discente do Bacharelado em Antropologia Social e Cultural / UFPel
Integrante do NETA – Núcleo de Etnologia Ameríndia / UFPel
e NECO – Núcleo de Estudos sobre Populações Costeiras e Saberes Tradicionais/FURG
Visite o meu blog: www.antropologiasocial.com.br